A apneia do sono é um fator de risco para hipertensão, pois esse distúrbio respiratório provoca interrupções repetidas da respiração durante o sono, levando a quedas nos níveis de oxigênio e aumento da pressão arterial.
A apneia obstrutiva do sono (AOS) é caracterizada pelo colapso parcial ou total das vias aéreas superiores, o que gera despertares frequentes e fragmenta o sono.
Com o tempo, esses episódios de hipóxia e ativação do sistema nervoso simpático contribuem para a elevação crônica da pressão arterial e o surgimento de doenças cardiovasculares.
O que é a apneia do sono?
A apneia obstrutiva do sono (AOS) é um distúrbio respiratório caracterizado por interrupções repetidas da respiração durante o sono, causadas pelo colapso parcial ou total das vias aéreas superiores.
Esses episódios de pausa respiratória podem durar de 10 segundos a mais de um minuto e se repetem dezenas ou até centenas de vezes por noite.
Cada interrupção reduz a oxigenação do sangue (hipóxia) e obriga o cérebro a “acordar” brevemente para reabrir as vias aéreas — o que causa um sono fragmentado e pouco reparador.
Com o tempo, esse ciclo de hipóxia e microdespertares tem impacto direto sobre o sistema cardiovascular, aumentando o risco de hipertensão arterial, arritmias e doenças cardíacas.
Como a apneia do sono provoca a elevação da pressão arterial?
A hipertensão associada à apneia não é apenas uma coincidência — é o resultado de respostas fisiológicas complexas.
Durante as pausas respiratórias, ocorre uma queda na oxigenação e um aumento do dióxido de carbono (CO₂) no sangue. O organismo reage ativando o sistema nervoso simpático, responsável pela liberação de adrenalina e noradrenalina.
Esses hormônios, produzidos pelas glândulas suprarrenais, provocam:
- Aumento da frequência cardíaca;
- Vasoconstrição (estreitamento dos vasos sanguíneos);
- Elevação transitória da pressão arterial.
Com o tempo, essa ativação repetitiva e crônica leva à hiperatividade simpática persistente, o que faz com que a pressão permaneça alta mesmo durante o dia.
Além disso, a hipóxia intermitente estimula processos inflamatórios e oxidativos que danificam o endotélio vascular — camada interna dos vasos sanguíneos —, favorecendo a rigidez arterial e o aumento da resistência vascular periférica.
O que acontece no corpo durante um episódio de apneia?
Durante um evento de apneia, o fluxo de ar é bloqueado, mas o esforço respiratório continua.
A pressão negativa dentro do tórax aumenta, e o coração precisa bombear contra uma resistência maior.
Esse esforço constante causa:
- Sobrecarga do ventrículo esquerdo, que bombeia o sangue para todo o corpo;
- Flutuações da pressão arterial a cada evento de apneia;
- Aumento da pressão intratorácica negativa, que interfere no retorno venoso e no débito cardíaco.
Essas alterações, repetidas noite após noite, resultam em estresse hemodinâmico crônico, condição que contribui diretamente para o desenvolvimento da hipertensão arterial sistêmica (HAS).
A apneia pode causar hipertensão mesmo em pessoas jovens e saudáveis?
Sim.
Embora a apneia seja mais comum em pessoas com sobrepeso, idade avançada ou fatores anatômicos desfavoráveis, estudos demonstram que até indivíduos jovens e aparentemente saudáveis podem desenvolver elevação persistente da pressão arterial quando sofrem de apneia moderada ou grave.
Segundo a American Heart Association (AHA), a AOS é considerada um fator de risco independente para hipertensão.
Isso significa que, mesmo na ausência de outras condições predisponentes, a apneia sozinha pode desencadear a elevação da pressão.
Um estudo clássico publicado no New England Journal of Medicine mostrou que pacientes com AOS não tratada tinham três vezes mais risco de desenvolver hipertensão em comparação com indivíduos sem o distúrbio. (PubMed – PMID: 11832577)
Qual é a relação entre apneia do sono e hipertensão resistente?
A hipertensão resistente é aquela que se mantém elevada mesmo com o uso de três ou mais medicamentos anti-hipertensivos em doses adequadas.
Estima-se que cerca de 30% dos pacientes com hipertensão resistente também tenham apneia obstrutiva do sono.
A explicação está no fato de que a apneia causa ativação simpática contínua e retenção de sódio pelos rins, tornando o controle da pressão mais difícil.
Além disso, a fragmentação do sono altera o ritmo circadiano da pressão arterial, impedindo que ela diminua à noite — um fenômeno conhecido como “non-dipping”, fortemente associado a maior risco cardiovascular e cerebrovascular.
O tratamento da apneia pode reduzir a pressão arterial?
Sim — e de forma clinicamente significativa.
O tratamento mais eficaz para apneia moderada ou grave é o uso do CPAP (Continuous Positive Airway Pressure), aparelho que mantém as vias aéreas abertas por meio de fluxo contínuo de ar.
Estudos demonstram que o uso regular do CPAP:
- Reduz a pressão arterial sistólica e diastólica em 2 a 10 mmHg;
- Melhora a variabilidade da frequência cardíaca;
- Diminui os níveis de adrenalina circulante;
- Restaura o padrão normal do sono e reduz a inflamação endotelial.
Uma meta-análise publicada no Journal of the American Heart Association (2022) concluiu que o uso consistente do CPAP em pacientes com apneia e hipertensão resistente reduziu em até 30% o risco de eventos cardiovasculares graves, incluindo AVC e infarto (PubMed – PMID: 35416540)
A perda de peso também ajuda no controle da apneia e da pressão?
Sim.
A obesidade é um dos principais fatores de risco para apneia e hipertensão, pois o acúmulo de gordura na região cervical estreita as vias aéreas e aumenta a resistência respiratória.
A redução de 10% do peso corporal pode diminuir em até 50% o índice de apneia-hipopneia (IAH) e contribuir para o controle da pressão arterial.
Intervenções combinadas — como dieta balanceada, atividade física e controle metabólico — oferecem resultados mais duradouros e seguros do que apenas o uso de medicamentos.
Atualmente, terapias farmacológicas com agentes como tirzepatida (Mounjaro) também têm mostrado benefício adicional na melhora da apneia associada à obesidade, conforme estudos recentes do New England Journal of Medicine (2024). (PubMed – PMID: 38949833)
Existem outras complicações cardiovasculares associadas à apneia?
Sim. A apneia do sono é um fator de risco independente não apenas para hipertensão, mas também para uma série de complicações cardiovasculares, incluindo:
- Arritmias cardíacas, como fibrilação atrial e taquicardia ventricular;
- Doença arterial coronariana (DAC);
- Insuficiência cardíaca congestiva;
- Acidente vascular cerebral (AVC).
Essas complicações estão relacionadas à hipóxia intermitente e à instabilidade autonômica, que causam inflamação, disfunção endotelial e remodelação cardíaca.
Um estudo de Somers et al. (Circulation, 2008) evidenciou que a apneia aumenta em 2 a 3 vezes o risco de eventos cardiovasculares fatais, especialmente quando não tratada. (PubMed – PMID: 18591439)
O que acontece quando a apneia e a hipertensão coexistem?
Quando a apneia e a hipertensão ocorrem juntas, os efeitos sobre o organismo são sinérgicos e potencialmente perigosos.
A pressão arterial permanece elevada à noite, mesmo durante o sono, o que sobrecarrega o coração e os vasos sanguíneos de forma contínua.
Além disso, há maior risco de desenvolver:
- Hipertrofia ventricular esquerda (espessamento do músculo cardíaco);
- Disfunção endotelial generalizada;
- Resistência à insulina e síndrome metabólica.
Esses fatores aumentam a chance de eventos como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC).
Por isso, o diagnóstico e o manejo precoce da apneia são fundamentais não apenas para melhorar o sono, mas também para prevenir complicações cardiovasculares graves.
Como é feito o diagnóstico da apneia e da hipertensão associada?
O diagnóstico da apneia do sono é confirmado por meio da polissonografia, exame que registra parâmetros como fluxo de ar, movimentos respiratórios, saturação de oxigênio e atividade cerebral.
Para hipertensão, o diagnóstico é estabelecido a partir de medições seriadas da pressão arterial, incluindo monitoramento residencial ou MAPA (monitorização ambulatorial da pressão arterial).
Quando há suspeita de relação entre ambas as condições, o ideal é realizar avaliação integrada, com apoio de especialistas em medicina do sono, cardiologia e endocrinologia.
Quais hábitos ajudam a reduzir a apneia e controlar a pressão arterial?
Pequenas mudanças no estilo de vida têm grande impacto sobre o sono e a saúde cardiovascular. Entre as mais eficazes estão:
- Manter o peso corporal adequado;
- Evitar álcool e sedativos antes de dormir;
- Dormir de lado (posição lateral reduz os episódios de apneia);
- Tratar congestão nasal e refluxo gastroesofágico;
- Manter boa higiene do sono, com horários regulares;
- Praticar atividade física regular (melhora o controle da pressão e a qualidade do sono).
Essas medidas, aliadas ao acompanhamento médico e ao uso de dispositivos terapêuticos, podem restaurar o sono profundo e proteger o sistema cardiovascular.
Perguntas Frequentes (FAQ)
Nem sempre, mas aumenta significativamente o risco, especialmente em casos moderados e graves não tratados.
Sim. O uso regular do CPAP e a perda de peso podem reduzir a pressão em muitos pacientes.
Não necessariamente, mas o ronco frequente pode ser um sinal inicial de apneia e deve ser investigado.
Sim. Fatores anatômicos, genéticos e musculares também influenciam no colapso das vias aéreas.
Eles tratam a consequência (pressão alta), mas não a causa. O tratamento da apneia é essencial.
Conclusão
A apneia obstrutiva do sono é muito mais do que um distúrbio respiratório noturno — é um importante fator de risco cardiovascular, especialmente para a hipertensão arterial.
Os mecanismos que conectam essas condições envolvem hipóxia intermitente, ativação simpática e disfunção endotelial, que, a longo prazo, comprometem o coração e os vasos sanguíneos.
O diagnóstico precoce e o tratamento adequado, seja com CPAP, dispositivos intraorais ou mudanças de estilo de vida, são fundamentais para reduzir complicações e restaurar a qualidade do sono e da saúde.
Dormir bem é, em última análise, um dos pilares mais poderosos para proteger o coração e prolongar a vida.
Referências
- Peppard PE, et al. Prospective study of sleep-disordered breathing and hypertension. N Engl J Med. 2000. PubMed
- Somers VK, et al. Sleep apnea and cardiovascular disease. Circulation. 2008. PubMed
- Martinez-Garcia MA, et al. Effect of CPAP on blood pressure in patients with resistant hypertension. JAMA. 2013. PubMed
- Sánchez-de-la-Torre M, et al. CPAP in obstructive sleep apnea and resistant hypertension. J Am Heart Assoc. 2022. PubMed
- Javaheri S, et al. Obstructive sleep apnea and hypertension: mechanisms and management. Hypertension. 2017. PubMed
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