Sim. A apneia do sono pode causar ou agravar o bruxismo noturno, e essa relação tem sido amplamente estudada na literatura científica. Ambos os distúrbios compartilham mecanismos fisiológicos e neurológicos relacionados à respiração, ao sistema nervoso central e ao estresse durante o sono.
Enquanto a apneia obstrutiva do sono (AOS) se caracteriza por interrupções repetidas da respiração devido ao colapso das vias aéreas superiores, o bruxismo do sono envolve apertar ou ranger os dentes de forma involuntária. Em muitos pacientes, o bruxismo surge como uma resposta reflexa à obstrução respiratória — uma tentativa inconsciente de abrir as vias aéreas e restabelecer a ventilação.

















O que é apneia obstrutiva do sono e como ela afeta o organismo?
A apneia obstrutiva do sono é um distúrbio respiratório em que há colapso recorrente das vias aéreas superiores durante o sono, levando à redução (hipopneia) ou interrupção total (apneia) do fluxo de ar.
Durante esses episódios, o cérebro detecta a queda dos níveis de oxigênio e envia sinais para despertar brevemente o indivíduo, ativando os músculos respiratórios e restabelecendo o fluxo aéreo. Esses microdespertares, embora muitas vezes imperceptíveis, fragmentam o sono e sobrecarregam o sistema cardiovascular.
Entre as consequências fisiológicas mais relevantes estão:
- Hipóxia intermitente (queda repetida da oxigenação sanguínea).
- Aumento da pressão arterial e ativação do sistema nervoso simpático.
- Estresse oxidativo e inflamação sistêmica.
- Disfunção endotelial e risco aumentado de arritmias, infarto e AVC.
Estudos do National Heart, Lung, and Blood Institute (NHLBI) e da American Academy of Sleep Medicine (AASM) mostram que a apneia não tratada pode duplicar o risco de doenças cardiovasculares graves.

















O que é o bruxismo do sono e por que ele ocorre?
O bruxismo do sono é uma atividade muscular mastigatória repetitiva e involuntária que ocorre durante o sono, caracterizada pelo apertamento ou ranger dos dentes.
Ele é classificado como um distúrbio do movimento relacionado ao sono, segundo a International Classification of Sleep Disorders (ICSD-3), e envolve complexas interações entre o sistema nervoso central, fatores psicológicos e estímulos periféricos.
As causas mais comuns incluem:
- Estresse e ansiedade;
- Distúrbios respiratórios (como a apneia);
- Uso de estimulantes (cafeína, nicotina, antidepressivos);
- Predisposição genética e alterações na dopamina.
Durante o bruxismo, há uma ativação súbita dos músculos da mandíbula, muitas vezes precedida por microdespertares associados à respiração irregular — o que sugere uma conexão direta com os episódios de apneia.

















Como a apneia do sono pode desencadear o bruxismo?
Pesquisas demonstram que o bruxismo pode ocorrer logo após episódios de apneia ou hipopneia, possivelmente como uma resposta protetora. O movimento de ranger os dentes e contrair a mandíbula ajuda a reposicionar a língua e abrir as vias aéreas, restabelecendo a passagem de ar.
Um estudo publicado no Journal of Oral Rehabilitation observou que cerca de 50% dos pacientes com bruxismo também apresentavam apneia do sono, e os episódios de ranger de dentes frequentemente seguiam os despertares respiratórios.
A sequência típica é a seguinte:
- Ocorre o colapso das vias aéreas e a redução do oxigênio.
- O cérebro reage ativando o sistema simpático para despertar parcialmente o corpo.
- Essa ativação causa aumento do tônus muscular e movimento mandibular.
- O contato dentário (bruxismo) ajuda a reposicionar a mandíbula e liberar a via aérea.
Esse mecanismo, embora protetor, causa desgaste dentário, dor muscular e tensão na articulação temporomandibular (ATM) ao longo do tempo.
Existe uma relação direta entre a gravidade da apneia e o bruxismo?
Sim. Estudos indicam uma correlação proporcional entre a gravidade da apneia e a frequência do bruxismo.
Pesquisas da Sleep Foundation e do National Institutes of Health (NIH) mostraram que pacientes com apneia moderada ou grave apresentam mais episódios de atividade mastigatória rítmica durante o sono.
No entanto, essa relação não é linear em todos os casos. Em alguns pacientes, o bruxismo ocorre sem apneia, motivado por fatores emocionais ou neurológicos. Já em outros, ele desaparece após o tratamento da apneia, o que reforça o vínculo causal.
Em resumo: o bruxismo pode tanto ser uma resposta adaptativa à apneia quanto uma condição independente — mas os dois frequentemente coexistem e se potencializam mutuamente.
Como esses distúrbios impactam a saúde cardiovascular?
A apneia e o bruxismo noturno compartilham um ponto crítico: ambos ativam o sistema nervoso simpático, responsável por respostas de “luta ou fuga”. Essa ativação constante durante o sono resulta em:
- Aumento da pressão arterial;
- Taquicardia e variações da frequência cardíaca;
- Maior risco de arritmias e eventos cardíacos.
A combinação entre hipóxia intermitente da apneia e tensão muscular do bruxismo intensifica o estresse oxidativo, contribuindo para inflamação vascular e resistência à insulina.
O NIH e o American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine destacam que pacientes com apneia e bruxismo têm maior probabilidade de desenvolver síndrome metabólica, diabetes tipo 2 e doença coronariana.
Quais são as consequências odontológicas do bruxismo relacionado à apneia?
O bruxismo noturno crônico leva a uma série de complicações dentárias e musculoesqueléticas, como:
- Desgaste do esmalte dentário e aumento da sensibilidade;
- Fraturas dentárias e falhas em restaurações;
- Dor ou travamento da mandíbula;
- Disfunção da articulação temporomandibular (ATM);
- Cefaleias tensionais e dor facial ao acordar.
Quando o bruxismo está associado à apneia, o tratamento isolado apenas com placas de proteção pode não resolver o problema. É fundamental abordar a causa respiratória subjacente, pois os episódios de ranger tendem a diminuir quando a apneia é controlada.
Como é feito o diagnóstico conjunto da apneia e do bruxismo?
O diagnóstico precisa ser multidisciplinar, envolvendo profissionais da medicina do sono e odontologia.
Os principais exames utilizados incluem:
- Polissonografia completa – registra a atividade elétrica cerebral, os movimentos mandibulares, a respiração e o nível de oxigênio, identificando episódios de apneia e bruxismo.
- Monitoramento eletromiográfico (EMG) – detecta a atividade dos músculos mastigatórios.
- Avaliação odontológica – observa desgastes, fraturas e sintomas na ATM.
A integração dos dados permite entender se o bruxismo está ocorrendo como consequência da apneia ou de outro fator primário.
Quais são as opções de tratamento para ambos os distúrbios?
O tratamento deve abordar tanto o aspecto respiratório quanto o muscular, com enfoque individualizado.
1. Tratamento da apneia do sono
- CPAP (Continuous Positive Airway Pressure): fornece ar pressurizado para manter as vias aéreas abertas durante o sono. É o tratamento mais eficaz para casos graves.
- Aparelhos intraorais de avanço mandibular: reposicionam a mandíbula e a língua para frente, ampliando a via aérea. São indicados para apneia leve a moderada e reduzem significativamente o ronco e o bruxismo reflexo.
- Cirurgias das vias aéreas superiores: em casos de obstruções anatômicas severas.
2. Tratamento do bruxismo
- Placas oclusais estabilizadoras: protegem os dentes e reduzem o impacto das forças mastigatórias.
- Terapia de relaxamento e controle do estresse: o componente emocional é relevante e deve ser considerado.
- Fisioterapia orofacial e reeducação muscular: ajudam a reduzir tensão na mandíbula e sintomas na ATM.
O tratamento ideal é aquele que controla a apneia e o bruxismo de forma integrada, permitindo a restauração do sono reparador e da saúde bucal.
O tratamento da apneia pode reduzir o bruxismo?
Sim. Diversos estudos indicam que tratar a apneia reduz significativamente os episódios de bruxismo noturno.
Pacientes que utilizam CPAP ou aparelho intraoral de avanço mandibular relatam diminuição dos despertares respiratórios e da atividade muscular mastigatória. Isso ocorre porque o estímulo que desencadeava o bruxismo (a obstrução das vias aéreas) deixa de existir.
Um estudo publicado no Sleep Medicine Reviews confirmou que, após três meses de tratamento da apneia, houve redução de mais de 60% nos episódios de ranger de dentes em pacientes com ambos os distúrbios.
Quais são os riscos de não tratar apneia e bruxismo?
Ignorar esses distúrbios pode trazer consequências sistêmicas e odontológicas sérias.
Entre os principais riscos estão:
- Hipertensão arterial e doenças cardíacas;
- Distúrbios metabólicos e fadiga crônica;
- Perda dentária progressiva e dor crônica na ATM;
- Déficits cognitivos e depressão;
- Redução da qualidade de vida e fragmentação do sono.
A longo prazo, o impacto combinado de hipóxia, estresse muscular e privação de sono compromete tanto a saúde quanto o bem-estar emocional.
Conclusão: por que é importante diagnosticar e tratar precocemente?
A relação entre apneia do sono e bruxismo noturno revela o quanto o corpo é interconectado. O que começa como um simples ranger de dentes pode ser o sinal de um distúrbio respiratório mais profundo.
Compreender essa conexão é essencial para evitar complicações cardiovasculares, restaurar o sono reparador e proteger a estrutura dentária. O tratamento multidisciplinar — envolvendo médicos, dentistas e fisioterapeutas do sono — é a chave para o sucesso.
Dormir bem não é apenas descansar: é permitir que o corpo e a mente se recuperem plenamente.
Perguntas Frequentes (FAQ)
Não. O bruxismo pode ocorrer por estresse ou outros fatores, mas é comum em quem tem apneia.
Sim. Ao normalizar a respiração, o estímulo reflexo que provoca o ranger tende a desaparecer.
Sim, ele reposiciona a mandíbula e reduz episódios de apneia e bruxismo leve.
Pode, especialmente quando há bruxismo associado. A tensão muscular noturna causa dor e rigidez matinal.
Indiretamente, sim. Quando associado à apneia, aumenta o estresse cardiovascular e a inflamação sistêmica.
Referências
- American Academy of Sleep Medicine (AASM): https://www.aasm.org
- National Institutes of Health (NIH): https://www.nih.gov
- National Heart, Lung, and Blood Institute (NHLBI): https://www.nhlbi.nih.gov
- PubMed – Sleep Bruxism and Obstructive Sleep Apnea: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov
- Sleep Foundation – Bruxism and Sleep Disorders: https://www.sleepfoundation.org
- Journal of Oral Rehabilitation – Relationship Between Sleep Bruxism and Sleep Apnea.
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