O ronco durante o sono é mais do que um som incômodo — é um sinal de que o ar encontra dificuldade para passar pelas vias respiratórias superiores.
Ele ocorre quando há vibração dos tecidos moles da garganta, como o palato mole, a úvula e a base da língua, durante a respiração noturna.
À medida que dormimos, os músculos da faringe relaxam. Em algumas pessoas, esse relaxamento é excessivo, fazendo com que o espaço para a passagem do ar se estreite. O ar turbulento que passa por essa região provoca vibrações, resultando no som do ronco.
Esse fenômeno é mais comum em homens, pessoas com sobrepeso, obstrução nasal crônica, consumo de álcool ou uso de sedativos antes de dormir. Mas também pode aparecer em mulheres, especialmente após a menopausa, e até em crianças com amígdalas aumentadas.
O ronco sempre indica um problema de saúde?
Nem sempre. O ronco pode ser ocasional e benigno, especialmente após um dia cansativo ou consumo de álcool.
No entanto, quando o ronco é frequente, alto e interrompido por pausas respiratórias, ele pode sinalizar algo mais grave: a apneia obstrutiva do sono (AOS).
Enquanto o ronco leve apenas reflete o estreitamento das vias aéreas, a apneia representa colapso total ou parcial dessas vias, interrompendo a respiração por alguns segundos.
Essas pausas levam a quedas nos níveis de oxigênio, fragmentação do sono e ativação repetida do sistema nervoso simpático, o que sobrecarrega o coração e o cérebro.
Ou seja, o ronco pode ser um sintoma de um distúrbio respiratório importante — e merece investigação quando é persistente.
Como o ronco se forma nas vias respiratórias?
A anatomia desempenha um papel crucial. A região da orofaringe, localizada atrás da língua e do palato mole, é naturalmente estreita. Durante o sono, o relaxamento muscular reduz ainda mais esse espaço.
Quando o ar entra pelos pulmões, a diferença de pressão faz com que os tecidos vibrem.
Se o palato mole é alongado, a língua é volumosa ou há excesso de tecido adiposo no pescoço, o fluxo de ar se torna turbulento e ruidoso.
Essa vibração pode ocorrer de forma leve (apenas ronco) ou intensa, a ponto de bloquear o fluxo respiratório — caracterizando a apneia.
Em ambos os casos, o corpo reage com microdespertares, que interrompem o sono profundo e reduzem sua qualidade, mesmo sem que a pessoa perceba.
Qual é a relação entre o ronco e a apneia do sono?
O ronco e a apneia do sono estão intimamente ligados.
O ronco é frequentemente o primeiro sinal de colapso parcial das vias aéreas, enquanto a apneia representa uma obstrução completa ou quase completa.
Durante um episódio de apneia, o ar para de circular, o oxigênio no sangue cai e o cérebro precisa “acordar” o corpo para restabelecer a respiração.
Esse ciclo pode se repetir dezenas de vezes por hora.
Com o tempo, essas interrupções fragmentam o sono e provocam hipóxia intermitente — uma sequência de quedas e elevações de oxigênio no sangue.
Essa condição é altamente prejudicial, pois causa inflamação sistêmica, estresse oxidativo e ativação cardiovascular.
Estudos da American Academy of Sleep Medicine (AASM) e do National Institutes of Health (NIH) mostram que pessoas com apneia têm risco aumentado de hipertensão, arritmias, AVC e infarto.
(NIH – Sleep Apnea and Heart Disease)
O ronco pode afetar o coração e o cérebro?
Sim. O impacto do ronco frequente vai muito além do incômodo sonoro.
A vibração constante dos tecidos e as oscilações de oxigênio ativam o sistema nervoso simpático, responsável pela resposta de “luta ou fuga”.
Isso leva a:
- Picos de pressão arterial noturna;
- Aumento da frequência cardíaca;
- Alterações hormonais (aumento da adrenalina e cortisol);
- Danos ao endotélio vascular (revestimento dos vasos sanguíneos).
Com o tempo, essas alterações contribuem para o desenvolvimento de hipertensão arterial, fibrilação atrial, AVC e insuficiência cardíaca.
Estudos recentes mostram que tratar o ronco e a apneia melhora a variabilidade cardíaca e a oxigenação cerebral, reduzindo o risco cardiovascular.
(PubMed – PMID: 31012854)
O que acontece com o sono de quem ronca?
Quem ronca raramente tem um sono reparador.
Mesmo quando não há apneia, o ruído e as vibrações podem causar microdespertares que impedem o corpo de entrar nas fases mais profundas do sono.
Esses despertares fragmentam o ciclo do sono, resultando em:
- Sonolência diurna excessiva;
- Dificuldade de concentração e memória;
- Mudanças de humor e irritabilidade;
- Redução da produtividade e da libido.
O ronco também prejudica o sono do parceiro, levando muitas vezes ao chamado “divórcio do sono”, quando o casal passa a dormir em quartos separados por causa do barulho.
Quais fatores aumentam o risco de roncar?
Vários fatores contribuem para o ronco:
- Obesidade – o acúmulo de gordura no pescoço estreita as vias aéreas.
- Idade – o tônus muscular diminui com o envelhecimento.
- Sexo masculino – os homens têm anatomia faríngea mais estreita.
- Consumo de álcool e sedativos – relaxam os músculos da garganta.
- Obstruções nasais crônicas – dificultam o fluxo de ar.
- Alterações anatômicas – como amígdalas grandes ou retrognatismo.
A combinação desses fatores aumenta a probabilidade de colapso das vias respiratórias e de ronco intenso.
Como é feito o diagnóstico do ronco e da apneia?
O diagnóstico começa com uma avaliação clínica detalhada, incluindo histórico de ronco, pausas respiratórias, cansaço diurno e dores de cabeça matinais.
Em seguida, o médico do sono pode solicitar uma polissonografia, exame que registra:
- Fluxo respiratório;
- Movimentos torácicos e abdominais;
- Saturação de oxigênio;
- Frequência cardíaca;
- Sons de ronco e microdespertares.
Esse exame permite diferenciar ronco simples de apneia obstrutiva do sono e determinar a gravidade do problema.
Quais são as opções de tratamento para o ronco?
O tratamento depende da causa e da gravidade do ronco, podendo envolver:
1. Mudanças de hábitos
- Evitar álcool e sedativos antes de dormir;
- Manter o peso adequado;
- Dormir de lado, evitando a posição supina;
- Tratar alergias e congestão nasal.
2. Aparelho intraoral
Dispositivo personalizado que avança a mandíbula e a língua, ampliando o espaço da faringe e facilitando a passagem do ar.
É especialmente eficaz em casos de ronco primário e apneia leve a moderada.
(PubMed – PMID: 27817346)
3. CPAP (Continuous Positive Airway Pressure)
Indicado para apneia grave. O equipamento fornece fluxo contínuo de ar pressurizado, mantendo as vias aéreas abertas.
4. Cirurgias otorrinolaringológicas
Podem ser indicadas em casos de obstrução anatômica significativa, como desvio de septo ou hipertrofia das amígdalas.
O tratamento deve sempre ser supervisionado por profissionais especializados em medicina do sono e odontologia do sono.
O ronco pode ser prevenido?
Sim. Pequenas mudanças no estilo de vida podem reduzir o risco de ronco e melhorar o sono:
- Evitar refeições pesadas e álcool antes de deitar;
- Praticar exercícios regularmente;
- Controlar o peso corporal;
- Manter boa higiene do sono (horários regulares, quarto escuro e silencioso).
Essas medidas favorecem um sono mais profundo, reduzem o colapso das vias respiratórias e protegem o sistema cardiovascular.
Perguntas Frequentes (FAQ)
Não. Nem todo ronco indica apneia, mas é um sinal de alerta quando é alto e constante.
Sim. O esforço respiratório e a ativação simpática aumentam a pressão arterial noturna.
Sim. Essa posição impede o colapso da língua e melhora o fluxo de ar.
Sim, especialmente por hipertrofia das amígdalas ou adenoides. Deve ser avaliado por um pediatra.
Depende da causa. Em muitos casos, mudanças de hábitos e uso de aparelhos intraorais controlam o problema.
Conclusão
O ronco durante o sono não deve ser ignorado.
Embora possa parecer inofensivo, ele frequentemente indica resistência ao fluxo aéreo e pode evoluir para apneia obstrutiva do sono, com consequências sérias para o coração, o cérebro e a qualidade de vida.
Compreender o que está por trás do ronco é o primeiro passo para cuidar da saúde respiratória e garantir um sono verdadeiramente reparador.
Buscar avaliação médica especializada é essencial para identificar a causa, prevenir complicações e restaurar o equilíbrio entre respirar bem e dormir bem.
Referências
Lavigne GJ, et al. Sleep bruxism and airway resistance. Sleep Med Rev. 2008. PubMed
American Academy of Sleep Medicine (AASM). Sleep Apnea and Snoring: Clinical Guidelines. AASM.org
NIH. Sleep Apnea and Heart Disease. NIH.gov
Javaheri S, et al. Obstructive Sleep Apnea and Cardiovascular Disease. Hypertension. 2017. PubMed
Malhotra A, et al. Sleep-disordered breathing and stroke risk. Eur Heart J. 2021. PubMed
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