o ronco pode levar ao divórcio do sono

O ronco pode realmente levar ao Divórcio do Sono?

O ronco pode realmente levar ao divórcio do sono? Essa pergunta, cada vez mais discutida entre médicos e casais, vai muito além de uma curiosidade.

Dormir ao lado de alguém que ronca intensamente pode ser mais do que um incômodo — pode se tornar um problema de saúde e até de relacionamento.

Nos últimos anos, o termo “divórcio do sono” ganhou espaço em estudos e na mídia para descrever casais que decidem dormir em quartos separados por causa do ronco ou da apneia obstrutiva do sono.

Mas afinal, o ronco é apenas um som irritante ou um sinal de um distúrbio que pode afetar o corpo — e a vida a dois?

O que causa o ronco?

O ronco ocorre quando há vibração dos tecidos moles da via aérea superior — principalmente o palato mole, a úvula e a base da língua — durante a respiração enquanto dormimos. Essa vibração é consequência de um estreitamento ou colapso parcial das vias aéreas, o que dificulta a passagem do ar.

Durante o sono, a musculatura relaxa naturalmente. Em algumas pessoas, esse relaxamento é mais acentuado, especialmente em quem possui:

  • Excesso de peso (a gordura cervical comprime a faringe);
  • Desvio de septo, rinite alérgica ou amígdalas aumentadas;
  • Consumo de álcool ou sedativos antes de dormir;
  • Anatomia facial predisponente (mandíbula retraída, pescoço curto, língua volumosa).

O som do ronco é, portanto, um sintoma de resistência ao fluxo aéreo — e pode ser um alerta para uma condição mais grave: a apneia obstrutiva do sono (AOS).

O que acontece no corpo durante a apneia do sono?

A apneia obstrutiva do sono é caracterizada por pausas repetidas na respiração durante o sono, causadas pelo colapso total ou parcial da via aérea superior.
Esses episódios podem durar de 10 a 60 segundos e ocorrer dezenas ou até centenas de vezes por noite.

Cada pausa provoca uma queda na oxigenação sanguínea (hipoxemia) e ativa o sistema nervoso simpático, responsável pelas respostas de “luta ou fuga”.
Como resultado, o corpo experimenta picos transitórios de pressão arterial e aumento da frequência cardíaca, fragmentando o sono e sobrecarregando o sistema cardiovascular.

Em termos fisiológicos:

  1. Hipóxia intermitente → reduz a oferta de oxigênio aos tecidos;
  2. Estresse oxidativo → promove inflamação sistêmica;
  3. Ativação simpática crônica → contribui para hipertensão e arritmias;
  4. Fragmentação do sono → altera a regulação hormonal (leptina, grelina, cortisol).

Com o tempo, essas alterações aumentam o risco de doenças cardíacas, acidente vascular cerebral (AVC), diabetes tipo 2 e depressão【NIH: Sleep Apnea Overview】.

Por que o ronco afeta tanto o relacionamento?

Dormir mal afeta o humor, a paciência e a disposição. Quando um parceiro ronca, o outro tende a:

  • Ter sono fragmentado e fadiga diurna;
  • Desenvolver irritabilidade, ansiedade e insônia secundária;
  • Sentir-se emocionalmente distante ou desvalorizado;
  • Evitar o contato físico ou o compartilhamento da cama.

Pesquisas mostram que a privação de sono afeta áreas do cérebro associadas à empatia e ao controle emocional, reduzindo a capacidade de comunicação e aumentando conflitos conjugais.
Um estudo da American Academy of Sleep Medicine (AASM) revelou que casais onde um dos parceiros tem apneia do sono reportam menor satisfação conjugal e mais discussões noturnas【AASM: Snoring and Relationships】.

O que é o “divórcio do sono”?

O termo sleep divorce não significa o fim do relacionamento, mas uma decisão prática: o casal opta por dormir em camas ou quartos separados para preservar o descanso e a convivência.
Essa escolha é cada vez mais comum — e não necessariamente negativa. Pesquisas do National Sleep Foundation indicam que cerca de 25% dos casais nos EUA dormem separados, seja ocasionalmente ou regularmente.

No entanto, quando o afastamento físico surge por causa de um problema médico não tratado, como a apneia, ele pode mascarar um risco de saúde e criar distância emocional.
Em muitos casos, tratar a causa do ronco restaura tanto o sono quanto a harmonia conjugal.

O ronco sempre indica apneia do sono?

Nem sempre. Há pessoas que roncam de forma benigna, sem pausas respiratórias nem queda de oxigênio.
Contudo, o ronco alto, frequente e associado a sintomas como:

  • Sonolência diurna;
  • Dor de cabeça matinal;
  • Dificuldade de concentração;
  • Engasgos noturnos ou sufocamento;
  • Irritabilidade e falta de energia;

… pode indicar apneia.
A única forma de confirmar é por meio de um exame de polissonografia, que registra ondas cerebrais, movimentos oculares, fluxo aéreo e oxigenação durante o sono【PubMed: Polysomnography in OSA Diagnosis】.

Como o ronco e a apneia prejudicam o coração?

A relação entre apneia do sono e doenças cardiovasculares é amplamente documentada.
Durante cada episódio de apneia, ocorre um aumento súbito da pressão intratorácica negativa, que eleva a pós-carga cardíaca e reduz o retorno venoso.
Com o tempo, esses ciclos de hipóxia e reperfusão levam à disfunção endotelial e à hipertensão arterial sustentada.

Estudos indicam que pacientes com apneia têm:

  • 2 a 3 vezes mais risco de hipertensão resistente;
  • Maior incidência de arritmias (especialmente fibrilação atrial);
  • Aumento significativo no risco de infarto e AVC【PubMed: Sleep Apnea and Cardiovascular Risk】.

Além disso, a fragmentação do sono altera a secreção de hormônios metabólicos, favorecendo ganho de peso e resistência à insulina — um ciclo que agrava ainda mais o quadro.

Quais são as opções de tratamento?

1. Mudanças comportamentais

  • Evitar álcool e sedativos antes de dormir;
  • Dormir de lado (posição lateral reduz o colapso das vias aéreas);
  • Manter peso adequado;
  • Praticar higiene do sono (rotina, ambiente escuro e silencioso).

2. Dispositivos orais

Os aparelhos intraorais de avanço mandibular reposicionam a mandíbula e a língua, mantendo a via aérea aberta.
Indicados para casos leves a moderados.

3. Terapia com pressão positiva (CPAP)

O CPAP (Continuous Positive Airway Pressure) é o tratamento padrão para apneia moderada a grave.
O aparelho fornece fluxo contínuo de ar pressurizado que impede o colapso das vias respiratórias, reduzindo o ronco e normalizando a oxigenação.

4. Cirurgias e procedimentos

Em alguns casos, é indicada a uvulopalatofaringoplastia ou outras técnicas para remover tecidos redundantes ou corrigir anomalias anatômicas.
Procedimentos mais recentes, como a estimulação do nervo hipoglosso, também mostram bons resultados em pacientes selecionados【NIH: Hypoglossal Nerve Stimulation】.

Dormir separado é sempre ruim?

Não necessariamente. Alguns casais relatam melhora na qualidade do sono e até melhor convivência após adotarem quartos separados, desde que mantenham o contato e a intimidade em outros momentos.
O problema surge quando o divórcio do sono é uma fuga do problema de saúde e não uma escolha consciente.
Roncar alto, especialmente com pausas respiratórias, nunca deve ser normalizado.

Quais evidências científicas reforçam essa relação?

  • American Academy of Sleep Medicine (2022): ronco crônico está associado a pior qualidade de sono conjugal e maior chance de dormir separado.
  • European Respiratory Journal (2021): apneia do sono aumenta o risco de separação conjugal em até 20% dos casos moderados a graves.
  • Journal of Clinical Sleep Medicine (2020): tratar a apneia com CPAP melhora não só os índices clínicos, mas também a satisfação conjugal e a qualidade do relacionamento.

Essas evidências mostram que tratar o ronco não é apenas uma questão de conforto, mas de saúde física e emocional do casal.

Como abordar o tema com o parceiro?

Conversar sobre o ronco exige sensibilidade.
O parceiro que ronca muitas vezes não percebe o problema, e pode sentir-se envergonhado ou culpado.
O ideal é adotar um tom empático: explicar que o ronco preocupa por motivos de saúde e sugerir uma avaliação médica conjunta.

Muitos casais encontram solução ao participarem juntos das consultas e entenderem o impacto mútuo da apneia do sono.

FAQ – Perguntas frequentes

1. O ronco é perigoso por si só?
Nem sempre, mas pode indicar apneia, que exige avaliação médica. O ronco alto e constante merece investigação.

2. Dormir separado resolve o problema?
Pode aliviar o desconforto, mas não trata a causa. A apneia continua afetando a saúde mesmo em quartos separados.

3. O CPAP é desconfortável?
No início pode causar estranhamento, mas os modelos modernos são silenciosos e bem tolerados com ajuste adequado.

4. Crianças também podem roncar?
Sim. Em crianças, o ronco pode estar ligado a amígdalas grandes ou adenoides e precisa ser avaliado por um otorrinolaringologista.

5. O tratamento elimina o ronco completamente?
Depende da causa. Com CPAP ou dispositivos orais bem indicados, o ronco pode desaparecer ou reduzir significativamente.

Conclusão: o sono compartilhado é um reflexo da saúde compartilhada

O ronco pode parecer apenas um detalhe noturno, mas frequentemente é o sinal audível de um distúrbio sistêmico que afeta o corpo, o humor e o relacionamento.
Ignorá-lo é arriscar não só a qualidade do sono, mas também a saúde cardiovascular e o vínculo afetivo.

Buscar diagnóstico e tratamento é um gesto de cuidado mútuo — com o próprio corpo e com quem divide a vida (e a cama).
Dormir bem é, no fim das contas, um dos pilares mais silenciosos — e mais poderosos — do amor saudável.

Referências

Unidade Campinas – R. Antonio Lapa, 1020 – Bairro: Cambuí – WhatsApp (19) 99813-7019

Unidade Brooklin – São Paulo – R. Alcides Ricardini Neves,12 – WhatsApp (11) 94164-5052

Unidade Tatuapé – São Paulo – R. Cantagalo, 692 Conj 618 – WhatsApp (11) 94164-5052

Unidade Valinhos – Av. Joaquim Alves Correa, 4480 – Sala 1 – WhatsApp (19) 99813-7019

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Dr Paulo Coelho

Dr. Paulo Coelho é graduado em Odontologia e Psicanálise, com especialização em Ortodontia, DTM e Dor Orofacial. Possui Mestrado em Ortodontia e Doutorado em Psicanálise, com foco em Distúrbios do Sono e Odontologia do Sono.
Atua de forma integrada no tratamento do ronco, da apneia do sono e das disfunções orofaciais, unindo ciência e abordagem humanizada para promover saúde, bem-estar e qualidade de vida.

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