Bruxismo do Sono Causas, Diagnóstico e Abordagens Odontológicas

Bruxismo do Sono: Causas, Diagnóstico e Abordagens Odontológicas

O bruxismo do sono é uma atividade muscular mastigatória involuntária caracterizada pelo ranger ou apertar dos dentes durante o sono. Diferente do bruxismo em vigília (quando a pessoa aperta os dentes acordada), o bruxismo do sono é considerado um distúrbio do movimento relacionado ao sono.

Segundo a American Academy of Sleep Medicine (AASM), o bruxismo do sono é classificado como um distúrbio de movimento periódico e frequentemente ocorre em associação com microdespertares — breves ativações cerebrais que alteram o padrão normal do sono.

Esse fenômeno pode gerar desgaste dentário, dor muscular orofacial, disfunção temporomandibular (DTM) e impactar significativamente a qualidade de vida.

Quais são as causas e os fatores de risco do bruxismo do sono?

O bruxismo do sono possui etiologia multifatorial, envolvendo uma combinação de fatores neurológicos, psicológicos e fisiológicos. Embora o estresse e a ansiedade sejam amplamente associados, a literatura científica indica que o distúrbio é mais complexo do que uma simples resposta emocional.

Fatores centrais e neurológicos

Estudos apontam que o bruxismo do sono está relacionado à hiperatividade dos gânglios da base e à liberação irregular de dopamina — um neurotransmissor que regula os movimentos musculares e a resposta ao estresse.
Durante o sono, ocorrem picos de atividade simpática e microdespertares, o que pode desencadear a ativação dos músculos mastigatórios.

Em pacientes com distúrbios do sono, como apneia obstrutiva do sono (AOS), há aumento da atividade autonômica, sugerindo uma relação entre bruxismo e eventos respiratórios.

Fatores psicossociais

O estresse crônico, ansiedade e traços de personalidade competitiva aumentam a incidência do bruxismo. No entanto, nem todo indivíduo estressado apresenta o distúrbio, o que reforça a influência de predisposições neurofisiológicas.

Fatores genéticos e familiares

Estudos com gêmeos sugerem que há hereditariedade parcial no bruxismo, com incidência maior entre familiares de primeiro grau. Alterações nos genes relacionados à via dopaminérgica podem estar envolvidas.

Fatores fisiológicos e medicamentosos

Alguns medicamentos que atuam sobre o sistema nervoso central, como antidepressivos ISRS (inibidores seletivos da recaptação de serotonina), podem induzir ou agravar o bruxismo. O uso de estimulantes, cafeína, álcool e nicotina também está associado ao aumento da atividade muscular noturna.

Como o bruxismo do sono está relacionado à apneia do sono?

A relação entre bruxismo do sono e apneia obstrutiva do sono (AOS) tem sido amplamente investigada. Ambas as condições compartilham mecanismos autonômicos comuns, incluindo microdespertares e aumento da atividade simpática.

Durante um episódio de apneia, ocorre hipóxia transitória (redução de oxigênio), seguida de um microdespertar. Essa resposta fisiológica estimula o sistema nervoso autônomo, aumentando o tônus muscular da mandíbula, o que pode levar ao ranger ou apertar dos dentes.

Em muitos casos, o bruxismo é uma resposta protetora: o movimento mandibular ajuda a reabrir as vias aéreas parcialmente colapsadas. No entanto, essa compensação gera sobrecarga muscular e desgaste dentário.

Um estudo publicado no Journal of Clinical Sleep Medicine (2017) identificou que até 30% dos pacientes com apneia leve a moderada apresentavam episódios de bruxismo associados aos eventos respiratórios.

Quais são os principais sintomas e consequências do bruxismo do sono?

O bruxismo do sono pode se manifestar de forma leve, moderada ou severa, e seus sintomas variam conforme a intensidade e frequência dos episódios.

Principais manifestações clínicas incluem:

  • Desgaste dentário visível (facetas planas nas cúspides).
  • Dor ou sensibilidade nos dentes.
  • Dor muscular facial ao acordar.
  • Cefaleia matinal (dor de cabeça ao despertar).
  • Ruídos de ranger de dentes percebidos por parceiros.
  • Sintomas de disfunção temporomandibular (estalos, limitação de abertura, dor na ATM).

A longo prazo, o bruxismo pode causar fraturas dentárias, retração gengival, hipersensibilidade dentinária e danos a restaurações e próteses.

Como é feito o diagnóstico do bruxismo do sono?

O diagnóstico envolve uma abordagem clínica, instrumental e polissonográfica.

Avaliação clínica

O cirurgião-dentista realiza uma anamnese detalhada e exame físico da cavidade oral e músculos mastigatórios.
São observados sinais como desgaste dentário, mobilidade anormal, dor à palpação e hipertrofia dos músculos masseter e temporal.

No entanto, o diagnóstico clínico isolado pode subestimar ou superestimar a condição, uma vez que o desgaste dentário pode ter outras causas (como hábitos alimentares ou erosão ácida).

Polissonografia

A polissonografia (PSG) é o padrão-ouro para o diagnóstico do bruxismo do sono, segundo a AASM.
O exame registra variáveis como:

  • Eletromiografia dos músculos masseter e temporal.
  • Eletroencefalograma (EEG).
  • Eletrocardiograma (ECG).
  • Fluxo respiratório e saturação de oxigênio.

A PSG permite identificar episódios de atividade muscular rítmica (RMMA – rhythmic masticatory muscle activity), característica do bruxismo do sono, e avaliar sua relação com microdespertares ou apneias.

Eletromiografia domiciliar

Dispositivos portáteis de eletromiografia (EMG) podem ser utilizados em ambiente domiciliar para o monitoramento da atividade muscular noturna. Embora menos precisos que a PSG, oferecem uma alternativa prática para acompanhamento.

Quais são as abordagens odontológicas para o tratamento do bruxismo do sono?

O tratamento do bruxismo do sono é multidisciplinar, envolvendo odontologia, medicina do sono, psicologia e fisioterapia orofacial.
O objetivo principal é reduzir os danos musculoesqueléticos e dentários, bem como melhorar a qualidade do sono.

Uso de dispositivos interoclusais (placas oclusais)

A placa estabilizadora é uma das abordagens odontológicas mais utilizadas. Ela é confeccionada em acrílico rígido e ajustada individualmente, permitindo uma distribuição equilibrada das forças oclusais e relaxamento muscular.

Estudos mostram que o uso noturno da placa pode reduzir a dor muscular e prevenir desgaste dentário, embora não elimine completamente a atividade de bruxismo.

Abordagem para casos associados à apneia do sono

Quando o bruxismo está relacionado à apneia leve ou moderada, o uso de aparelho intraoral de avanço mandibular pode ser indicado.
Esses aparelhos promovem avanço da mandíbula, ampliando o espaço das vias aéreas superiores e reduzindo os eventos respiratórios e o bruxismo reflexo.

Pesquisas publicadas no Sleep and Breathing (2020) demonstram que o uso do aparelho intraoral em pacientes com AOS leve diminui a frequência dos episódios de bruxismo noturno.

Terapias complementares

  • Fisioterapia orofacial: para reeducação muscular e alívio de dor miofascial.
  • Biofeedback: dispositivos que alertam o paciente sobre a atividade muscular excessiva.
  • Terapias cognitivas e comportamentais: auxiliam na redução do estresse e controle de hábitos parafuncionais.

Tratamento medicamentoso

Ainda não há consenso sobre o uso de medicamentos. Alguns estudos exploram o uso de benzodiazepínicos, agonistas dopaminérgicos e relaxantes musculares, mas os efeitos são temporários e apresentam riscos de dependência.

Como o bruxismo do sono impacta o sistema cardiovascular?

Durante os episódios de bruxismo, ocorre uma ativação simpática associada ao aumento da frequência cardíaca e pressão arterial.
Esses microdespertares podem gerar flutuações hemodinâmicas, contribuindo para sobrecarga cardiovascular noturna.

Em pacientes com bruxismo e apneia coexistentes, o impacto é potencializado. A repetição de dessaturações de oxigênio e picos de pressão pode elevar o risco de hipertensão e disfunção endotelial.

Estudo publicado no Journal of Sleep Research (2018) sugere que o bruxismo pode ser um marcador de hiperatividade autonômica noturna, o que reforça a necessidade de avaliação cardiovascular em pacientes com sintomas persistentes.

Quais são as evidências científicas mais recentes sobre o bruxismo do sono?

A literatura atual converge para a compreensão do bruxismo como um comportamento motor complexo, modulado por fatores centrais e periféricos.

Entre as principais descobertas recentes:

  • O bruxismo não é exclusivamente patológico, podendo ter papel protetor das vias aéreas em casos de apneia leve.
  • A atividade muscular mastigatória rítmica (RMMA) é mediada por mecanismos cerebrais autônomos e não depende de estímulos externos.
  • Há crescente interesse no uso de monitoramento domiciliar combinado (EEG + EMG) para diagnóstico menos invasivo e mais acessível.
  • Estudos longitudinais mostram que o tratamento odontológico isolado é eficaz para controle de danos, mas o manejo multidisciplinar apresenta melhores resultados a longo prazo.

Perguntas Frequentes (FAQ)

O bruxismo do sono tem cura?

Não existe cura definitiva, mas é possível controlar os sintomas e prevenir complicações com abordagens adequadas.

O estresse é sempre a causa do bruxismo?

Não. O estresse é um fator agravante, mas há causas neurológicas, genéticas e respiratórias envolvidas.

A placa de bruxismo elimina o ranger de dentes?

Ela protege os dentes e reduz dor muscular, mas não impede totalmente a atividade muscular.

O bruxismo pode estar ligado à apneia do sono?

Sim. Em muitos casos, o bruxismo é uma resposta protetora à obstrução das vias aéreas.

O uso de medicamentos é recomendado?

Apenas em casos específicos e sob supervisão médica, devido a possíveis efeitos colaterais.


Conclusão: por que o diagnóstico e o tratamento são tão importantes?

O bruxismo do sono não deve ser visto apenas como um hábito ou um sintoma isolado. Ele reflete interações complexas entre o sistema nervoso central, o sono e a oclusão dentária, podendo indicar distúrbios respiratórios ou disfunções neuromusculares.

O diagnóstico precoce e o acompanhamento interdisciplinar são fundamentais para evitar danos irreversíveis aos dentes, músculos e articulações, além de melhorar a qualidade do sono e o bem-estar geral.

Com base nas evidências atuais, a integração entre odontologia do sono, medicina do sono e psicologia representa o caminho mais eficaz para o manejo dessa condição multifatorial.

Referências

Unidade Campinas – R. Antonio Lapa, 1020 – Bairro: Cambuí – WhatsApp (19) 99813-7019

Unidade Brooklin – São Paulo – R. Alcides Ricardini Neves,12 – WhatsApp (11) 94164-5052

Unidade Tatuapé – São Paulo – R. Cantagalo, 692 Conj 618 – WhatsApp (11) 94164-5052

Unidade Valinhos – Av. Joaquim Alves Correa, 4480 – Sala 1 – WhatsApp (19) 99813-7019

Unidade Campinas – R. Antonio Lapa, 1020 – Bairro: Cambuí – WhatsApp (19) 99813-7019

Unidade Brooklin – São Paulo – R. Alcides Ricardini Neves,12 – WhatsApp (11) 94164-5052

Unidade Tatuapé – São Paulo – R. Cantagalo, 692 Conj 618 – WhatsApp (11) 94164-5052

Unidade Valinhos – Av. Joaquim Alves Correa, 4480 – Sala 1 – WhatsApp (19) 99813-7019

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Dr Paulo Coelho

Dr. Paulo Coelho é graduado em Odontologia e Psicanálise, com especialização em Ortodontia, DTM e Dor Orofacial. Possui Mestrado em Ortodontia e Doutorado em Psicanálise, com foco em Distúrbios do Sono e Odontologia do Sono.
Atua de forma integrada no tratamento do ronco, da apneia do sono e das disfunções orofaciais, unindo ciência e abordagem humanizada para promover saúde, bem-estar e qualidade de vida.

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