Como o ronco pode estar relacionado ao aumento da pressão arterial

Como o ronco pode estar relacionado ao aumento da pressão arterial?

O ronco pode realmente causar aumento da pressão arterial? Sim. O ronco, especialmente quando está associado à apneia obstrutiva do sono (AOS), pode causar ou agravar a hipertensão arterial. Esse fenômeno ocorre porque as interrupções respiratórias durante o sono provocam queda dos níveis de oxigênio (hipóxia intermitente), o que ativa mecanismos fisiológicos que elevam a pressão de forma persistente.

De modo simples, o corpo reage ao ronco e às pausas respiratórias como se estivesse em “modo de emergência”. Isso leva à liberação de adrenalina e outras substâncias que contraem os vasos sanguíneos e aumentam o trabalho do coração.

Com o tempo, essa sobrecarga constante deixa de ser apenas noturna e se torna hipertensão sustentada, mesmo durante o dia.

O que é o ronco e por que ele ocorre?

O ronco é o som produzido pela vibração dos tecidos moles da garganta, como o palato mole, úvula e amígdalas, quando o ar passa por uma via aérea parcialmente obstruída.

Essa obstrução acontece geralmente durante o sono profundo, quando há relaxamento muscular. Entre as causas mais comuns estão:

  • Excesso de peso e acúmulo de gordura no pescoço;
  • Consumo de álcool ou sedativos;
  • Posição de dormir (principalmente de costas);
  • Obstruções nasais ou desvio de septo;
  • Apneia obstrutiva do sono.

Embora o ronco leve e ocasional seja benigno, o ronco alto e frequente é um sinal de que algo não está bem com a respiração noturna.

O que acontece no corpo durante a apneia do sono?

A apneia obstrutiva do sono ocorre quando há colapso parcial ou total das vias aéreas superiores durante o sono. Isso impede que o ar chegue aos pulmões, reduzindo o oxigênio no sangue e levando o cérebro a “despertar” o corpo brevemente para restaurar a respiração.

Esses microdespertares podem ocorrer de 10 a mais de 30 vezes por hora, fragmentando o sono e impedindo o descanso profundo.

A fisiologia da apneia envolve:

  • Hipóxia intermitente: repetidas quedas nos níveis de oxigênio.
  • Ativação do sistema nervoso simpático: aumento da adrenalina e do ritmo cardíaco.
  • Aumento da pressão intratorácica: esforço respiratório elevado devido ao bloqueio da via aérea.
  • Inflamação sistêmica: resposta inflamatória generalizada que afeta vasos sanguíneos e coração.

Esses mecanismos, repetidos noite após noite, contribuem diretamente para o desenvolvimento da hipertensão.

Qual é o papel da hipóxia intermitente no aumento da pressão arterial?

A hipóxia intermitente, típica da apneia do sono, é um dos principais gatilhos da hipertensão associada ao ronco.

Quando o corpo sente falta de oxigênio, o cérebro envia sinais para aumentar a frequência cardíaca e contrair os vasos sanguíneos, em uma tentativa de compensar o déficit. Esse processo envolve a liberação de catecolaminas (adrenalina e noradrenalina), ativando o sistema nervoso simpático.

Com o tempo, essa estimulação constante causa:

  • Vasoconstrição crônica (estreitamento persistente das artérias);
  • Retenção de sódio pelos rins;
  • Aumento do volume sanguíneo circulante;
  • Alterações na função endotelial, reduzindo a capacidade dos vasos de relaxar.

O resultado é uma elevação sustentada da pressão arterial — mesmo em períodos de vigília.

Como o ronco e a apneia afetam o sistema cardiovascular?

Os efeitos cardiovasculares da apneia e do ronco são amplos e bem documentados em estudos científicos.

Durante cada episódio de apneia, o coração enfrenta flutuações bruscas na pressão intratorácica e na oxigenação, gerando estresse mecânico e inflamatório.

Isso leva a:

  • Aumento da pressão arterial noturna e diurna;
  • Maior risco de arritmias cardíacas;
  • Aumento da resistência vascular periférica;
  • Rigidez arterial precoce;
  • Maior risco de infarto e acidente vascular cerebral (AVC).

Segundo o National Heart, Lung, and Blood Institute (NHLBI), pessoas com apneia do sono têm até duas vezes mais risco de desenvolver hipertensão do que aquelas com sono normal.

Existe uma relação entre a intensidade do ronco e o risco de hipertensão?

Sim. Estudos da American Academy of Sleep Medicine (AASM) e do National Institutes of Health (NIH) mostram que quanto mais alto e frequente é o ronco, maior a probabilidade de o indivíduo apresentar episódios de apneia e, consequentemente, alterações na pressão arterial.

O ronco isolado (sem apneia) causa apenas pequenas flutuações de oxigênio e pressão, mas o ronco acompanhado de pausas respiratórias eleva significativamente os níveis de estresse cardiovascular.

Um estudo publicado no European Heart Journal apontou que mais de 50% dos pacientes hipertensos não diagnosticados com apneia apresentavam ronco intenso e interrupções respiratórias durante o sono.

O ronco pode afetar o ritmo natural da pressão arterial?

Sim. Normalmente, a pressão arterial diminui durante o sono — um fenômeno conhecido como nocturnal dipping. Essa redução é essencial para a recuperação cardiovascular.

No entanto, em pacientes com apneia, essa queda não ocorre. Em vez disso, há picos repetidos de pressão a cada microdespertar. Essa ausência de redução noturna, chamada non-dipping, é um marcador importante de risco cardiovascular.

Pacientes non-dippers apresentam maior incidência de:

  • Hipertrofia ventricular esquerda (aumento do músculo cardíaco);
  • Aterosclerose acelerada;
  • Complicações renais e cerebrais.

Assim, o ronco persistente e a apneia não apenas aumentam a pressão, mas também alteram o seu comportamento fisiológico.

Como o tratamento do ronco e da apneia ajuda no controle da hipertensão?

Diversos estudos mostram que tratar a apneia melhora o controle da pressão arterial, especialmente em pacientes com hipertensão resistente (aquela que não responde bem aos medicamentos).

As principais abordagens terapêuticas incluem:

1. CPAP (Continuous Positive Airway Pressure)

O CPAP fornece um fluxo contínuo de ar pressurizado, impedindo o colapso das vias aéreas. Ele normaliza a oxigenação, reduz a ativação simpática e melhora o padrão de pressão arterial noturna.

2. Aparelhos intraorais de avanço mandibular

Indicado para casos leves e moderados, esse dispositivo reposiciona a mandíbula e a língua, ampliando o espaço na garganta. Ao facilitar a passagem de ar, ele reduz o ronco, melhora o sono e alivia a sobrecarga cardiovascular.

3. Mudanças de estilo de vida

  • Redução de peso;
  • Evitar álcool e sedativos;
  • Praticar atividade física regular;
  • Dormir de lado;
  • Tratar obstruções nasais.

Essas medidas simples têm grande impacto no controle da apneia e, consequentemente, na pressão arterial.

O ronco deve ser sempre investigado?

Sim. O ronco persistente, especialmente quando acompanhado de pausas na respiração, sonolência diurna ou dores de cabeça matinais, deve ser avaliado por um especialista.

O diagnóstico da apneia é feito através da polissonografia, exame que monitora a respiração, batimentos cardíacos e oxigenação durante o sono.

Detectar precocemente a apneia é crucial, pois ela pode permanecer silenciosa por anos, prejudicando o coração sem sintomas evidentes.

O que acontece se o ronco e a apneia não forem tratados?

A apneia não tratada pode causar consequências graves, incluindo:

  • Hipertensão crônica resistente;
  • Doenças coronarianas e AVC;
  • Diabetes tipo 2 e síndrome metabólica;
  • Insuficiência cardíaca congestiva;
  • Alterações cognitivas e fadiga crônica.

Além disso, o sono fragmentado afeta a produtividade, o humor e as relações interpessoais, agravando o impacto emocional e social da doença.

Conclusão: o ronco é um sinal que o corpo não deve ignorar

O ronco não é apenas um incômodo — ele pode ser um marcador clínico de disfunção respiratória e cardiovascular. Quando associado à apneia, ele se torna um fator de risco direto para o aumento da pressão arterial e doenças cardíacas graves.

Reconhecer o ronco como um sintoma e não como algo banal é fundamental para prevenir complicações de longo prazo. O diagnóstico e o tratamento precoces são capazes de restaurar o sono, equilibrar a pressão arterial e proteger o coração.

Dormir bem é, antes de tudo, um ato de cuidado com a própria vida.

Perguntas Frequentes (FAQ)

Todo mundo que ronca tem apneia do sono?

Não, mas o ronco frequente é um dos principais sinais de alerta para a apneia.

O ronco pode causar pressão alta mesmo sem apneia?

Em menor grau, sim. Mas o risco é significativamente maior quando há apneia associada.

A perda de peso ajuda a reduzir o ronco e a pressão arterial?

Sim. O emagrecimento reduz o colapso das vias aéreas e melhora o controle da hipertensão.

O CPAP realmente reduz a pressão arterial?

Sim, principalmente em pacientes com apneia moderada ou grave. O uso regular do CPAP melhora o fluxo de oxigênio e normaliza a pressão.

Dormir de lado pode ajudar a controlar o ronco?

Sim. Essa posição evita o colapso da garganta e reduz os episódios de apneia e ronco intenso.


Referências

Unidade Campinas – R. Antonio Lapa, 1020 – Bairro: Cambuí – WhatsApp (19) 99813-7019

Unidade Brooklin – São Paulo – R. Alcides Ricardini Neves,12 – WhatsApp (11) 94164-5052

Unidade Tatuapé – São Paulo – R. Cantagalo, 692 Conj 618 – WhatsApp (11) 94164-5052

Unidade Valinhos – Av. Joaquim Alves Correa, 4480 – Sala 1 – WhatsApp (19) 99813-7019

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Dr Paulo Coelho

Dr. Paulo Coelho é graduado em Odontologia e Psicanálise, com especialização em Ortodontia, DTM e Dor Orofacial. Possui Mestrado em Ortodontia e Doutorado em Psicanálise, com foco em Distúrbios do Sono e Odontologia do Sono.
Atua de forma integrada no tratamento do ronco, da apneia do sono e das disfunções orofaciais, unindo ciência e abordagem humanizada para promover saúde, bem-estar e qualidade de vida.

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