Mounjaro no tratamento da apneia do sono: O Mounjaro (tirzepatida) é um medicamento originalmente desenvolvido para o tratamento do diabetes tipo 2. Seu mecanismo de ação baseia-se na ativação dupla dos receptores de GIP (polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose) e GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1), dois hormônios intestinais envolvidos na regulação da glicose e do apetite.
Essa combinação promove uma melhora significativa na sensibilidade à insulina, reduz o apetite e diminui o peso corporal. Nos últimos anos, estudos clínicos demonstraram que a tirzepatida também pode ter efeitos benéficos no controle da apneia obstrutiva do sono (AOS), especialmente em pacientes com obesidade associada.
Qual é a relação entre obesidade e apneia obstrutiva do sono?
A apneia obstrutiva do sono (AOS) é um distúrbio respiratório caracterizado por colapsos repetidos das vias aéreas superiores durante o sono, resultando em interrupções temporárias da respiração. Esses episódios provocam queda da oxigenação sanguínea (hipóxia), microdespertares e sono fragmentado, comprometendo o descanso e o funcionamento cardiovascular.
A obesidade é um dos principais fatores de risco para a apneia. O acúmulo de gordura na região cervical e torácica reduz o diâmetro das vias aéreas e aumenta a pressão sobre os músculos respiratórios, dificultando a passagem do ar.
Estudos indicam que até 70% dos pacientes com AOS têm sobrepeso ou obesidade. Nesses casos, a perda de peso pode reduzir significativamente a gravidade da apneia, melhorar a oxigenação noturna e até normalizar o sono em alguns indivíduos.
Como o Mounjaro pode ajudar no tratamento da apneia?
O Mounjaro não atua diretamente nas vias aéreas, mas age sobre mecanismos metabólicos e inflamatórios que contribuem para a apneia.
A principal via de benefício é a redução de peso corporal.
A perda de gordura — especialmente na região visceral e cervical — diminui a resistência das vias aéreas e reduz o número de episódios de apneia e hipopneia por hora. Além disso, a tirzepatida promove:
- Melhora da sensibilidade à insulina, reduzindo inflamações sistêmicas associadas à resistência insulínica.
- Diminuição da gordura hepática e abdominal, o que impacta positivamente o controle respiratório.
- Redução dos níveis de leptina e aumento da adiponectina, hormônios que influenciam o controle ventilatório e o metabolismo energético.
Esses efeitos combinados explicam por que o Mounjaro tem sido investigado não apenas como tratamento para obesidade e diabetes, mas também como coadjuvante no controle da apneia do sono.
O que dizem os estudos clínicos sobre o uso de Mounjaro na apneia?
Em 2024, a empresa Eli Lilly, fabricante do Mounjaro, publicou resultados preliminares de dois grandes ensaios clínicos — SURMOUNT-OSA 1 e 2 — que avaliaram o efeito da tirzepatida em pacientes com apneia obstrutiva do sono associada à obesidade.
Resultados principais dos estudos SURMOUNT-OSA
- Os participantes apresentaram redução significativa do Índice de Apneia-Hipopneia (IAH) após 52 semanas de tratamento.
- Houve também perda média de 20% do peso corporal, melhora dos níveis de oxigenação noturna e redução dos sintomas de sonolência diurna.
- Em alguns casos, a melhora do IAH foi suficiente para reclassificar a gravidade da apneia de moderada para leve.
Esses achados foram publicados no New England Journal of Medicine e destacam o potencial da tirzepatida como terapia complementar para pacientes com AOS e obesidade.
(PubMed – PMID: 38949833)
Qual é a fisiologia por trás da melhora da apneia com o uso de Mounjaro?
A melhora ocorre por múltiplos mecanismos interligados:
- Redução da adiposidade cervical e visceral:
O acúmulo de gordura ao redor da faringe estreita o espaço aéreo. A perda de peso reverte esse processo, permitindo uma respiração mais livre durante o sono. - Melhora do controle neuromuscular das vias aéreas:
A obesidade e a resistência à insulina afetam a atividade dos músculos faríngeos. O uso de tirzepatida melhora o metabolismo energético e reduz o colapso faríngeo. - Redução da inflamação sistêmica:
A apneia está associada a níveis elevados de citocinas inflamatórias (IL-6, TNF-α). O Mounjaro ajuda a normalizar esses marcadores, favorecendo a função endotelial e respiratória. - Melhora da oxigenação e função cardiovascular:
Ao reduzir os episódios de apneia, há menor variação de pressão arterial noturna e menor ativação simpática, o que protege o sistema cardiovascular.
Em resumo, o Mounjaro atua indiretamente sobre as vias aéreas por meio da melhora metabólica, hormonal e inflamatória, reduzindo os fatores que perpetuam o colapso respiratório.
A apneia do sono afeta o sistema cardiovascular?
Sim — e de maneira profunda.
A apneia provoca flutuações repetitivas de oxigênio e dióxido de carbono no sangue, ativando o sistema nervoso simpático e gerando estresse oxidativo.
Com o tempo, essas alterações resultam em:
- Hipertensão arterial resistente;
- Aterosclerose acelerada;
- Arritmias cardíacas;
- Insuficiência cardíaca e AVC.
Estudos mostram que tratar a apneia, seja com CPAP, dispositivos intraorais ou perda de peso, reduz significativamente o risco cardiovascular.
A introdução de medicamentos como o Mounjaro — que atuam simultaneamente no controle metabólico e no peso corporal — pode representar uma abordagem complementar eficaz para proteger o coração e o cérebro desses pacientes.
O Mounjaro substitui o CPAP ou o tratamento odontológico?
Não.
O Mounjaro não é um substituto direto dos tratamentos tradicionais da apneia, como o CPAP (Continuous Positive Airway Pressure) ou os dispositivos intraorais de avanço mandibular.
O medicamento atua como coadjuvante, especialmente em pacientes com apneia associada à obesidade, que frequentemente não obtêm controle total dos sintomas apenas com dispositivos respiratórios.
Na prática clínica, a combinação de terapias — controle de peso, reeducação do sono e suporte ventilatório — é a abordagem mais eficaz e segura.
Existem riscos ou efeitos colaterais do uso de Mounjaro?
Como todo medicamento, a tirzepatida pode causar efeitos adversos, geralmente relacionados ao trato gastrointestinal. Os mais comuns incluem:
- Náuseas e vômitos;
- Diarreia ou constipação;
- Perda de apetite;
- Refluxo gastroesofágico leve.
Em casos raros, pode ocorrer pancreatite aguda ou complicações biliares. Por isso, o uso deve ser supervisionado por um médico e contraindicado em pacientes com histórico de pancreatite ou câncer medular de tireoide.
O uso de Mounjaro melhora a qualidade do sono além da apneia?
Sim.
A perda de peso e a melhora metabólica proporcionadas pela tirzepatida reduzem a sonolência diurna e aumentam a eficiência do sono.
Além disso, ao diminuir o número de despertares causados por apneia e hipopneia, o paciente entra com mais frequência nas fases NREM e REM profundas, que são restauradoras.
Isso resulta em melhor disposição, concentração e humor durante o dia, além de um sono mais contínuo e reparador.
O Mounjaro pode ser indicado para quem tem apneia sem obesidade?
Atualmente, as evidências de benefício são mais consistentes em pacientes com apneia e sobrepeso.
Em pessoas com peso normal e apneia causada por fatores anatômicos — como retrognatismo, hipertrofia de amígdalas ou alterações na faringe —, o Mounjaro não demonstrou impacto direto sobre os episódios de apneia.
Por isso, a indicação deve sempre ser individualizada, considerando as causas subjacentes da apneia e o perfil metabólico do paciente.
Evidências científicas mais relevantes sobre Mounjaro e apneia
- Eli Lilly & Co., 2024. SURMOUNT-OSA 1 and 2 Trials: Tirzepatide in Obstructive Sleep Apnea. N Engl J Med. PubMed
- Shah et al., 2023. GLP-1 receptor agonists and sleep-disordered breathing: mechanisms and outcomes. Diabetes Obes Metab. PubMed
- Patel et al., 2022. Weight loss and sleep apnea: evidence from pharmacologic interventions. Sleep Med Rev. PubMed
- Pérez-Padilla et al., 2021. Metabolic effects of GLP-1 analogs in obstructive sleep apnea patients. Chest. PubMed
- Somers et al., 2008. Sleep apnea and cardiovascular disease. Circulation. PubMed
Essas pesquisas reforçam o potencial terapêutico do Mounjaro, principalmente em contextos onde a perda de peso é determinante para o controle da apneia.
Perguntas Frequentes (FAQ)
Não. Ele reduz a gravidade da apneia indiretamente por meio da perda de peso e melhora metabólica.
Estudos mostram uma média de 15% a 20% de redução do peso corporal em um ano de tratamento.
Sim. A combinação pode potencializar os resultados e melhorar o controle respiratório e cardiovascular.
Sim, desde que o uso seja supervisionado por um médico e indicado para controle de obesidade ou comorbidades relacionadas.
Não. Ele auxilia na melhora dos sintomas, mas o tratamento completo envolve avaliação multidisciplinar.
Conclusão
O uso do Mounjaro (tirzepatida) representa um avanço significativo na abordagem metabólica da apneia obstrutiva do sono, especialmente em pacientes com obesidade.
Ao promover perda de peso sustentada e melhora da sensibilidade à insulina, o medicamento reduz a obstrução das vias aéreas e o estresse cardiovascular, contribuindo para um sono mais saudável.
No entanto, ele não substitui terapias tradicionais, como o CPAP ou o aparelho intraoral. O caminho ideal é a integração entre endocrinologia, medicina do sono e odontologia do sono, visando um tratamento personalizado e duradouro.
Em última análise, compreender o papel de medicamentos como o Mounjaro é um passo importante rumo a uma visão integrada da apneia, que vai além do ronco — e trata o corpo como um sistema interdependente entre metabolismo, respiração e sono.
Referências
- Eli Lilly & Co. SURMOUNT-OSA Clinical Trial Results. N Engl J Med. 2024. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38949833/
- Shah S, et al. GLP-1 Receptor Agonists and Sleep Apnea. Diabetes Obes Metab. 2023. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37750523/
- Patel SR, et al. Weight Loss and Sleep-Disordered Breathing. Sleep Med Rev. 2022. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35304344/
- Somers VK, et al. Sleep Apnea and Cardiovascular Disease. Circulation. 2008. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18591439/
- Pérez-Padilla R, et al. Metabolic Therapies in Sleep Apnea. Chest. 2021. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33958026/
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