Tórus Mandibular

Tórus Mandibular: Como o Bruxismo Pode Causar Essa Formação Óssea na Mandíbula

O tórus mandibular é uma protuberância óssea benigna que se forma na parte interna da mandíbula, geralmente próxima à língua. Apesar de não representar uma doença, sua presença desperta curiosidade e, em alguns casos, desconforto.

Nos últimos anos, estudos têm apontado uma relação direta entre o tórus mandibular e o bruxismo, sugerindo que o hábito de ranger ou apertar os dentes pode ser um dos principais fatores mecânicos que estimulam seu surgimento. Neste artigo, você entenderá essa conexão em detalhes.

O que é o tórus mandibular?

O tórus mandibular é uma exostose óssea, ou seja, um crescimento anormal de tecido ósseo compacto sobre a superfície da mandíbula. Ele surge na face lingual — o lado voltado para a língua — geralmente na região dos pré-molares.

Essa formação é recoberta por uma fina camada de mucosa e apresenta consistência dura ao toque. Pode ocorrer em um lado (unilateral) ou em ambos (bilateral). Em muitos casos, o paciente descobre o tórus apenas durante uma consulta odontológica de rotina.

Trata-se de uma variação anatômica benigna, sem caráter tumoral, mas que pode refletir alterações funcionais importantes na biomecânica da mastigação.

Como o bruxismo causa o tórus mandibular?

O bruxismo é reconhecido como um dos principais fatores desencadeantes do tórus mandibular. Durante o ato de ranger ou apertar os dentes, há aplicação de forças oclusais excessivas e repetitivas sobre a mandíbula, estimulando o osso a se adaptar por meio de um processo de hiperplasia cortical.

Esse fenômeno é conhecido como remodelação óssea adaptativa, e representa uma resposta fisiológica do corpo ao estresse mecânico constante. Assim, o osso mandibular reforça sua estrutura para suportar a pressão adicional — formando o tórus.

Em outras palavras, o tórus mandibular é um sinal anatômico de sobrecarga funcional crônica, frequentemente causada pelo bruxismo.

Qual é o mecanismo biológico dessa adaptação?

O processo envolve princípios de mecano-transdução óssea — quando forças físicas são convertidas em respostas biológicas:

  1. Força muscular repetitiva:
    O bruxismo gera intensa contração dos músculos masseter e pterigoideo, transmitindo carga compressiva à mandíbula.
  2. Ativação celular:
    Os osteócitos detectam o estresse mecânico e ativam osteoblastos, células responsáveis pela formação óssea.
  3. Deposição óssea localizada:
    Essa atividade osteoblástica gera um espessamento cortical na região mais solicitada, resultando no tórus mandibular.

Com o tempo, o estímulo constante do bruxismo mantém a proliferação óssea, estabilizando a protuberância.

Quais são os sintomas do tórus mandibular?

Na maioria dos casos, o tórus mandibular é assintomático. Entretanto, em pacientes com bruxismo ativo, podem ocorrer sintomas indiretos como:

  • Dor muscular na mandíbula ou pescoço;
  • Irritação na mucosa lingual;
  • Dificuldade de adaptação a próteses dentárias;
  • Pequenas feridas causadas por trauma local durante a mastigação;
  • Sensação de corpo estranho sob a língua.

O aumento de volume ósseo pode também alterar discretamente o espaço lingual, interferindo na fala ou na deglutição em casos raros.

O bruxismo é sempre o responsável pelo tórus mandibular?

Nem sempre, mas é considerado um dos principais fatores funcionais envolvidos. O tórus mandibular pode ter origem multifatorial:

  • Predisposição genética: histórico familiar de exostoses;
  • Fatores mecânicos: bruxismo, mastigação unilateral, hábitos parafuncionais;
  • Fatores ambientais e dietéticos: consumo de alimentos duros ou fibrosos;
  • Condições ósseas: variações na densidade e espessura cortical mandibular.

Mesmo assim, o bruxismo é, segundo diversos estudos, o fator mais consistente e observável na formação e crescimento do tórus.

Como o bruxismo influencia a estrutura óssea da mandíbula?

Durante o bruxismo, os músculos mastigatórios podem gerar forças superiores a 500 newtons, muito acima da pressão normal de mastigação. Essa força é transmitida diretamente ao osso alveolar e à base da mandíbula.

Com o tempo, o corpo entende esse estímulo como uma “exigência funcional” e responde com o aumento da espessura óssea local, especialmente na região interna — onde o tórus mandibular costuma surgir.

Esse mecanismo é um exemplo clássico da Lei de Wolff, segundo a qual o osso se adapta à carga que recebe.

Como é feito o diagnóstico do tórus mandibular?

O diagnóstico é clínico e radiográfico.

Exame clínico

O cirurgião-dentista identifica o tórus pela inspeção e palpação da mucosa lingual. A protuberância é dura, não dolorosa e recoberta por mucosa íntegra.

Exames de imagem

  • Radiografia panorâmica: mostra a espessura óssea aumentada;
  • Tomografia computadorizada (3D): fornece detalhes da estrutura, especialmente útil antes de cirurgias;
  • Diagnóstico diferencial: deve excluir osteomas, cistos e tumores odontogênicos.

Nos casos de bruxismo, também é importante avaliar o desgaste dentário e a hipertrofia muscular.

O tórus mandibular precisa de tratamento?

O tratamento depende da presença de sintomas. Na maioria dos casos, o tórus mandibular não requer intervenção cirúrgica, apenas acompanhamento.

A cirurgia é indicada quando:

  • O tórus causa trauma recorrente na mucosa;
  • Interfere na adaptação de próteses;
  • Provoca desconforto funcional;
  • Aumenta progressivamente com o tempo.

A osteotomia conservadora é o procedimento mais utilizado, realizada sob anestesia local, com remoção controlada do osso e sutura cuidadosa.

Como tratar o bruxismo para evitar o agravamento do tórus mandibular?

Tratar o bruxismo é essencial não apenas para aliviar a dor muscular e prevenir desgaste dental, mas também para impedir a progressão do tórus mandibular.

As principais abordagens incluem:

1. Placa oclusal de proteção

Usada durante o sono, ela reduz o contato dental e distribui as forças mastigatórias, diminuindo o estímulo mecânico sobre a mandíbula.

2. Controle do estresse e da ansiedade

O bruxismo está frequentemente associado a fatores emocionais. Técnicas de relaxamento, mindfulness e terapia cognitivo-comportamental são eficazes.

3. Fisioterapia orofacial

Ajuda a reduzir a tensão muscular e melhora a função mandibular, prevenindo sobrecarga mecânica.

4. Aplicação de toxina botulínica

Indicada em casos severos, reduz a força contrátil dos músculos masseter e temporal, aliviando a pressão sobre o osso mandibular.

5. Higiene do sono

Evitar estimulantes (como cafeína) e manter rotina regular de sono contribui para o controle do bruxismo noturno.

O tórus mandibular pode voltar após a remoção cirúrgica?

Sim, embora seja raro.
A recorrência está frequentemente associada à persistência do bruxismo. Se a causa mecânica não for tratada, o estímulo ósseo pode retornar, levando à formação de um novo tórus na mesma área.

Por isso, a abordagem ideal é dupla: controlar o bruxismo e, apenas quando necessário, remover o tórus cirurgicamente.

Qual é a importância do diagnóstico precoce?

O diagnóstico precoce permite:

  • Evitar intervenções desnecessárias;
  • Controlar o bruxismo antes que gere alterações ósseas permanentes;
  • Diferenciar o tórus de lesões patológicas;
  • Planejar tratamentos odontológicos com segurança.

Identificar o tórus mandibular como um sinal de sobrecarga funcional pode ajudar o profissional a investigar e tratar o bruxismo subjacente, prevenindo complicações futuras.

FAQ — Perguntas Frequentes

O tórus mandibular é causado pelo bruxismo?

Sim, o bruxismo é um dos principais fatores mecânicos que estimulam seu surgimento.

O tórus mandibular precisa sempre de cirurgia?

Não. Apenas se causar dor, trauma ou interferir em tratamentos odontológicos.

O bruxismo pode ser tratado?

Sim. Com abordagem multidisciplinar, incluindo placa oclusal, controle do estresse e fisioterapia.

O tórus mandibular pode desaparecer sozinho?

Não. É uma estrutura óssea permanente, removida apenas cirurgicamente.

Como evitar o aumento do tórus mandibular?

Controlando o bruxismo e reduzindo o estresse mecânico sobre a mandíbula.

Conclusão: o tórus mandibular é um reflexo da função mastigatória

O tórus mandibular não é apenas uma curiosidade anatômica — é um marco biológico da adaptação do osso à força. O bruxismo, como estímulo repetitivo e intenso, desempenha papel crucial nessa remodelação, revelando como o organismo responde ao estresse mecânico.

Reconhecer o tórus mandibular como consequência do bruxismo é fundamental para uma abordagem clínica completa.
Mais do que tratar a estrutura óssea, é preciso compreender o que ela revela sobre o comportamento funcional da mandíbula — e agir na causa, não apenas no efeito.

Referências

American Academy of Sleep Medicine. International Classification of Sleep Disorders, 3rd Edition. 2020. AASM

Lobbezoo F, Ahlberg J, Glaros AG et al. Bruxism defined and graded: an international consensus. J Oral Rehabil. 2013. NIH

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Manfredini D, Winocur E, Guarda-Nardini L. Epidemiology of bruxism in adults: a systematic review. J Orofac Pain. 2013. PubMed

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Dr Paulo Coelho

Dr. Paulo Coelho é graduado em Odontologia e Psicanálise, com especialização em Ortodontia, DTM e Dor Orofacial. Possui Mestrado em Ortodontia e Doutorado em Psicanálise, com foco em Distúrbios do Sono e Odontologia do Sono.
Atua de forma integrada no tratamento do ronco, da apneia do sono e das disfunções orofaciais, unindo ciência e abordagem humanizada para promover saúde, bem-estar e qualidade de vida.

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