Entenda como o bruxismo do sono se relaciona ao ronco e à apneia

Como o bruxismo do sono se relaciona ao ronco e à apneia obstrutiva?

Você já se perguntou como o bruxismo do sono se relaciona ao ronco e à apneia? Embora pareçam problemas distintos — ranger de dentes de um lado e interrupções na respiração de outro —, estudos mostram que essas condições estão intimamente conectadas.

O bruxismo pode funcionar como uma resposta protetora do organismo durante os episódios de obstrução das vias aéreas, sendo um sinal de que algo mais sério está acontecendo durante o sono.
Compreender essa relação é essencial para identificar a causa do problema e preservar tanto a qualidade do sono quanto a saúde geral.

O que é o bruxismo do sono?

O bruxismo do sono é uma atividade muscular mastigatória repetitiva, caracterizada pelo ranger ou apertar dos dentes durante o sono.
Segundo a American Academy of Sleep Medicine (AASM), ele é classificado como um distúrbio do movimento relacionado ao sono, podendo causar desgaste dentário, dores musculares e até distúrbios articulares temporomandibulares (DTM).

Embora muitas pessoas associem o bruxismo apenas ao estresse, suas causas são multifatoriais, incluindo fatores neurológicos, genéticos, respiratórios e do sistema nervoso autônomo.

O que causa o bruxismo durante o sono?

Durante o sono, especialmente na fase N2 (sono leve), o cérebro pode gerar microdespertares — breves ativações que estimulam os músculos mastigatórios.
Esses eventos costumam ocorrer em resposta a estímulos como queda no nível de oxigênio, obstrução das vias aéreas ou aumento da atividade simpática (sistema de alerta corporal).

Em muitos casos, o bruxismo funciona como uma resposta protetora do corpo: ao contrair os músculos da mandíbula, a via aérea superior se estabiliza, facilitando a respiração momentaneamente.
É aí que surge a ligação com o ronco e a apneia.

O que é o ronco e por que ele ocorre?

O ronco é um som vibratório produzido durante a respiração noturna, causado pela obstrução parcial das vias aéreas superiores.
Quando o fluxo de ar passa com dificuldade pela garganta — especialmente na úvula, palato mole e base da língua — ocorre a vibração dos tecidos, resultando no som característico.

Embora o ronco simples nem sempre represente um risco grave, ele é considerado um sinal de alerta para distúrbios respiratórios do sono, como a apneia obstrutiva.

O que é a apneia obstrutiva do sono?

A apneia obstrutiva do sono (AOS) é uma condição em que há colapso completo ou parcial das vias aéreas durante o sono, levando a pausas respiratórias (apneias) ou reduções no fluxo de ar (hipopneias).

Cada evento pode durar de 10 segundos a mais de um minuto e se repetir dezenas de vezes por hora.
Durante esses episódios, o cérebro reage enviando sinais de “alerta”, provocando microdespertares para restabelecer a respiração.

Essas interrupções fragmentam o sono e reduzem a oxigenação sanguínea, sobrecarregando o sistema cardiovascular.

Como o bruxismo do sono se relaciona ao ronco e à apneia?

Diversos estudos científicos têm mostrado uma associação direta entre o bruxismo e a apneia obstrutiva do sono.
Pesquisadores do National Institutes of Health (NIH) e da Sleep Research Society observaram que o bruxismo ocorre frequentemente após eventos de apneia ou hipopneia, sugerindo que ele é uma resposta fisiológica para reabrir as vias aéreas após um colapso.

Em outras palavras, o ranger de dentes pode representar uma tentativa do corpo de proteger-se da falta de ar.
Quando a respiração é interrompida, o sistema nervoso autônomo ativa o reflexo de despertar, aumentando o tônus muscular da mandíbula e da língua — o que momentaneamente melhora o fluxo de ar.

Contudo, essa ativação repetitiva pode gerar tensões musculares crônicas, dores orofaciais e desgaste dentário significativo.

Qual é a fisiologia envolvida nessa relação?

A fisiopatologia conjunta do bruxismo e da apneia envolve múltiplos sistemas: neurológico, respiratório e muscular.
Durante um episódio de apneia:

  1. O relaxamento dos músculos da faringe estreita as vias aéreas.
  2. O fluxo de ar diminui ou cessa completamente.
  3. O nível de oxigênio no sangue cai (dessaturação).
  4. O cérebro detecta essa queda e desencadeia uma resposta simpática.
  5. O aumento da atividade muscular — incluindo a mastigatória — pode causar um episódio de bruxismo.

Essa sequência mostra que o bruxismo não é o “vilão”, mas uma resposta adaptativa a uma falha respiratória.
Entretanto, quando o ciclo se repete várias vezes por hora, ocorre uma fragmentação significativa do sono e sobrecarga fisiológica.

Quais são os sinais clínicos que indicam essa associação?

Pacientes que apresentam bruxismo, ronco e sonolência diurna devem ser avaliados quanto à possibilidade de apneia obstrutiva.
Alguns sinais clínicos incluem:

  • Desgaste dentário ou fraturas nos dentes.
  • Dor na mandíbula ao acordar.
  • Dor de cabeça matinal.
  • Ronco alto e frequente.
  • Despertares noturnos com sensação de sufocamento.
  • Cansaço ou dificuldade de concentração durante o dia.

O diagnóstico precoce é essencial, pois tratar apenas o bruxismo sem investigar o componente respiratório pode não resolver a causa subjacente.

Como o bruxismo e a apneia afetam o sistema cardiovascular?

A apneia obstrutiva do sono está fortemente associada a hipertensão arterial, arritmias cardíacas, infarto e acidente vascular cerebral (AVC).
Os episódios repetidos de dessaturação e microdespertares aumentam o estresse oxidativo e a atividade simpática, o que eleva a pressão arterial e compromete a saúde vascular.

O bruxismo, quando associado à apneia, pode agravar essa resposta, pois adiciona sobrecarga muscular e liberações hormonais de estresse, como cortisol e adrenalina.
O resultado é uma cascata fisiológica que mantém o organismo em estado de alerta constante, mesmo durante o sono.

Existe diferença entre bruxismo primário e secundário?

Sim. O bruxismo primário ocorre de forma isolada, sem relação com outras doenças do sono.
Já o bruxismo secundário é aquele associado a distúrbios respiratórios — especialmente à apneia obstrutiva.

Estudos publicados na Journal of Oral Rehabilitation mostraram que até 50% dos pacientes com apneia leve a moderada também apresentam bruxismo do sono.
Isso reforça a importância de investigar a origem respiratória antes de tratar apenas os sintomas dentários.

Como é feito o diagnóstico conjunto de bruxismo e apneia?

O diagnóstico preciso requer uma abordagem multidisciplinar, combinando odontologia do sono, otorrinolaringologia e medicina do sono.

Os principais métodos incluem:

  • Polissonografia: exame padrão-ouro que monitora ondas cerebrais, respiração, ronco, saturação de oxigênio e atividade muscular.
  • Eletromiografia de masseter: avalia a intensidade e frequência das contrações musculares.
  • Avaliação odontológica: identifica desgaste dentário e alterações na articulação temporomandibular (ATM).

Esses dados permitem diferenciar se o bruxismo é primário ou secundário à apneia, orientando o tratamento correto.

Quais são as opções de tratamento?

O tratamento depende da gravidade da apneia e da origem do bruxismo.
De forma geral, as estratégias incluem:

1. Terapias respiratórias

O uso de CPAP (Continuous Positive Airway Pressure) é o padrão-ouro para casos moderados e graves de apneia.
Ele mantém as vias aéreas abertas por meio de pressão positiva constante.

2. Dispositivos intraorais

Os dispositivos de avanço mandibular (DAM) são recomendados para apneia leve e moderada.
Eles posicionam a mandíbula levemente para frente, ampliando o espaço aéreo e reduzindo o ronco e os episódios de apneia — além de diminuírem o bruxismo reflexo.

3. Mudanças de hábitos

Perda de peso, evitar álcool e sedativos antes de dormir e dormir de lado ajudam a reduzir o colapso das vias aéreas.

4. Fisioterapia orofacial e miofuncional

Exercícios que fortalecem a musculatura da língua e da garganta melhoram o tônus e reduzem o risco de apneias.

5. Controle do estresse

Técnicas de relaxamento e terapia cognitivo-comportamental podem diminuir a frequência de microdespertares e tensão muscular.

Quais são as evidências científicas atuais?

Pesquisas recentes têm reforçado a interconexão entre o bruxismo e a apneia.
Um estudo publicado na Sleep Medicine Reviews (2023) mostrou que o bruxismo ocorre em até 60% dos pacientes com apneia leve e que a redução dos eventos respiratórios também reduz significativamente o ranger de dentes.

Outro trabalho da American Academy of Sleep Medicine (AASM, 2021) apontou que o uso de dispositivos de avanço mandibular melhora simultaneamente a respiração noturna e os episódios de bruxismo.

Essas evidências indicam que, mais do que coincidência, trata-se de um mecanismo integrado de autorregulação do sono.

O que acontece se o problema não for tratado?

Ignorar o bruxismo e o ronco pode ter consequências sérias.
Além do desgaste dentário e da dor orofacial, o paciente pode desenvolver fadiga crônica, depressão, hipertensão e risco cardiovascular aumentado.

A fragmentação do sono compromete funções cognitivas, memória e até o equilíbrio hormonal, impactando diretamente a qualidade de vida e a longevidade.

Conclusão

Entender como o bruxismo do sono se relaciona ao ronco e à apneia é essencial para compreender que essas condições não são isoladas.
Elas fazem parte de um mesmo espectro de distúrbios respiratórios e neuromusculares que refletem a complexa interação entre o cérebro, o sistema nervoso e as vias aéreas.

Com diagnóstico preciso e tratamento adequado, é possível restaurar o sono, proteger os dentes e preservar a saúde cardiovascular.
Dormir bem é mais do que descansar — é um ato de cuidado com todo o organismo.

FAQs

Bruxismo do sono pode causar apneia?

Não diretamente, mas pode indicar uma resposta à obstrução respiratória durante o sono.

O ronco pode piorar o bruxismo?

Sim. O esforço respiratório e os microdespertares associados ao ronco podem aumentar os episódios de bruxismo.

A placa de bruxismo ajuda na apneia?

Apenas as placas de avanço mandibular têm efeito na apneia; as placas comuns não influenciam a respiração.

Todo paciente com apneia tem bruxismo?

Não, mas estudos mostram uma alta correlação, especialmente em casos leves e moderados.

O bruxismo desaparece ao tratar a apneia?

Em muitos casos, sim. O controle da apneia reduz os microdespertares e o ranger de dentes.

Referências

Unidade Campinas – R. Antonio Lapa, 1020 – Bairro: Cambuí – WhatsApp (19) 99813-7019

Unidade Brooklin – São Paulo – R. Alcides Ricardini Neves,12 – WhatsApp (11) 94164-5052

Unidade Tatuapé – São Paulo – R. Cantagalo, 692 Conj 618 – WhatsApp (11) 94164-5052

Unidade Valinhos – Av. Joaquim Alves Correa, 4480 – Sala 1 – WhatsApp (19) 99813-7019

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Dr Paulo Coelho

Dr. Paulo Coelho é graduado em Odontologia e Psicanálise, com especialização em Ortodontia, DTM e Dor Orofacial. Possui Mestrado em Ortodontia e Doutorado em Psicanálise, com foco em Distúrbios do Sono e Odontologia do Sono.
Atua de forma integrada no tratamento do ronco, da apneia do sono e das disfunções orofaciais, unindo ciência e abordagem humanizada para promover saúde, bem-estar e qualidade de vida.

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